Brasil

Paraty: um refúgio raso

Paraty, no litoral sul do Rio de Janeiro, é um desses destinos que encantam à primeira vista.

Suas praias tranquilas, a natureza ao redor e o charme de uma cidade que parece parada no tempo são convites irresistíveis para quem busca descanso e um mergulho visual na beleza colonial brasileira. 

Mas, quando o assunto é se aprofundar na história do lugar, é preciso ir com expectativas ajustadas.

Fundação de Paraty

Fundada oficialmente em 1667, Paraty teve papel importante durante o ciclo do ouro, sendo parte da famosa Caminho do Ouro, trecho da Estrada Real por onde a produção das Minas Gerais era escoada até o porto da cidade, para seguir rumo a Portugal. 

Esse caminho, que cortava a Serra do Mar, é hoje acessível em trechos preservados por trilhas guiadas, onde ainda se pode ver o calçamento original feito por mãos escravizadas. 

Inclusive, essa é uma das experiências mais autênticas para quem deseja sentir o passado sob os pés.

No entanto, o restante do patrimônio histórico da cidade não acompanha o mesmo nível de preservação. 

A história perdida de Paraty

O Centro Histórico, reconhecido como Patrimônio Mundial pela UNESCO, impressiona pelas ruas de pedra, igrejas coloniais e casarões com janelas coloridas, mas a maior parte dessas construções serve hoje como vitrines para lojas de artesanato e produtos locais. 

São poucas as casas abertas à visitação com conteúdos históricos de fato, o que acaba deixando um vazio para quem chega com sede de aprender mais sobre o passado do Brasil colonial.

Entre os poucos pontos de interesse histórico que resistem, estão as quatro principais igrejas da cidade: 

  • Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios, construída no século XVIII, que domina a paisagem com sua fachada branca e traços simples;
  • Igreja de Santa Rita, de 1722, hoje sede do pequeno Museu de Arte Sacra, onde é possível ver objetos religiosos e conhecer um pouco mais sobre a religiosidade da região;
  • Igreja de Nossa Senhora do Rosário, ligada às irmandades de pessoas negras escravizadas;
  • Igreja de Nossa Senhora das Dores, voltada para o mar, construída por mulheres da elite da cidade.

Esses pontos oferecem vislumbres da complexa trama social e religiosa que moldou Paraty ao longo dos séculos, mesmo que, infelizmente, ainda de forma limitada.

Por outro lado, para os degustadores da cultura local, as visitas aos alambiques artesanais são um dos destaques mais interessantes. 

A cachaça de Paraty

Além de experimentar cachaças premiadas, o turista conhece o processo tradicional de produção e entende a importância econômica e simbólica da bebida na história da região. 

É um tipo de turismo cultural que se salva por conseguir unir prática, sabor e memória.

Um dia completo é o suficiente para conhecer Paraty com calma, combinando passeios históricos, paradas nas lojinhas e uma visita a um alambique. 

Mais que isso, talvez só valha a pena para quem deseja aproveitar as praias, fazer trilhas ecológicas ou se desconectar da correria da vida urbana (o que é uma ótima ideia também).

No fim das contas, Paraty é encantadora, mas não exatamente profunda. A cidade é um bom cenário para fotos, um excelente local para relaxar e uma agradável experiência para quem gosta de passear devagar. Inclusive, recomendo olhar para o chão enquanto anda para conhecer os bichinhos fofos de lá.

Mas, para os apaixonados por história e cultura mais imersiva, fica o aviso: leve curiosidade, mas não espere encontrar muito conteúdo além das fachadas.

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