As civilizações da Grécia e Roma antigas são frequentemente lembradas por suas contribuições à filosofia, política, arquitetura e artes.
No entanto, um aspecto igualmente importante é a maneira como relações homoafetivas eram compreendidas e retratadas nessas culturas. Com uma abordagem distinta da moderna noção de sexualidade, gregos e romanos expressaram suas vivências afetivas e sexuais por meio de mitos, literatura e obras artísticas, muitas vezes com uma carga simbólica ambígua.
Sexualidade na Grécia Antiga
Na Grécia clássica, as relações entre homens — especialmente entre adultos e jovens aprendizes — eram socialmente reconhecidas como parte de um ideal educativo e formativo. Esse vínculo, chamado pederastia, envolvia aspectos pedagógicos, afetivos e sexuais, sendo amplamente discutido por filósofos como Platão e Xenofonte.
No famoso “Banquete” de Platão, por exemplo, o amor entre homens é exaltado como uma das formas mais puras de elevação espiritual e intelectual. Nesse contexto, a homoafetividade não era vista como uma identidade, mas como uma expressão de desejo e beleza.
Mitos Gregos
A mitologia grega é repleta de histórias com nuances homoeróticas e identidades fluidas. O mito de Apolo e Jacinto, por exemplo, narra o amor do deus solar pelo jovem príncipe espartano, cuja morte trágica deu origem à flor que leva seu nome.
Já o mito de Hermes e Hermafrodito apresenta uma fusão corporal e simbólica entre masculino e feminino, antecipando discussões contemporâneas sobre gênero fluido.
Essas narrativas ilustram como a sexualidade e o afeto eram tratados com uma complexidade simbólica que desafiava categorizações fixas. O corpo humano, especialmente o masculino jovem, era exaltado como ideal estético nas esculturas e afrescos, com forte carga homoerótica.
Roma Antiga
Na Roma Antiga, as relações homoafetivas existiam, mas eram reguladas por normas ligadas ao status social e à cidadania.
Enquanto o homem romano livre e cidadão podia manter relações sexuais com escravos, estrangeiros ou pessoas de status inferior, ele deveria sempre ocupar a posição ativa, já que o passivo era visto como submisso, isso em outro cidadão romano poderia ser interpretado como uma perda de dignidade.
Um exemplo histórico notável é o do imperador Adriano, cuja relação com o jovem Antínoo foi marcante. Após a morte prematura do amante, Adriano promoveu a divinização de Antínoo, fundando cidades em seu nome e incentivando cultos em sua homenagem, o que demonstra a intensidade da conexão emocional e cultural entre eles.
A arte da ambiguidade
Tanto na escultura grega quanto na arte romana, encontramos representações que desafiam os binarismos. A androginia, o erotismo e a sensualidade de figuras mitológicas como sátiros, efebos e divindades como Dioniso/Baco refletem a fluidez dos desejos humanos. As cerâmicas gregas retratam cenas de convivência íntima entre homens, muitas vezes com detalhes que denotam afeto e desejo.
Essa riqueza simbólica revela uma sociedade onde o amor, o desejo e a arte estavam profundamente entrelaçados, permitindo múltiplas interpretações e expressões.