Coluna

O amor e a guerra

No amor e na guerra, dizem que tudo vale. Mas e quando a guerra se infiltra no amor?

Quando um casal vê a despedida como um tiro de canhão na alma, ou quando amigos deixam de se falar porque o medo falou mais alto que a confiança?

Na Segunda Guerra Mundial, separações não eram apenas emocionais — eram geográficas, forçadas e, muitas vezes, definitivas. Uns eram levados para campos de batalha, outros se despediam na estação de trem sem saber se voltariam a se ver. As cartas demoravam a chegar, e, quando chegavam, muitas vezes não traziam boas notícias.

A guerra rasgava histórias de amor ao meio sem pedir desculpas.

Além da distância física, havia um abismo ainda maior: a desconfiança. Qualquer um poderia ser um inimigo em potencial. O vizinho simpático que vendia pão na esquina? Talvez estivesse passando informações para o outro lado. O primo distante que sumiu? Melhor não perguntar demais.

O medo fazia com que as pessoas se afastassem não só pela necessidade, mas pela incerteza — e poucas coisas são mais cruéis do que duvidar de quem se ama.

Mas será que estamos tão distantes desse cenário? É claro que sonhamos em nunca mais passar por guerras que matam milhares de pessoas diariamente, e essa guerra pode ter mudado de forma, mas o afastamento continua sendo uma realidade.

Hoje, não são trincheiras que separam as pessoas, mas fronteiras de tempo, espaço e tela.

Alguém que mora em outro país pode estar a um clique de distância, mas isso não significa que esteja perto. Amigos se falam por mensagens rápidas, mas não se veem há meses. E o medo? Ele persiste. Não mais sobre quem pode estar espionando, mas sobre quem pode trair, mentir ou simplesmente desaparecer sem explicação.

A guerra ensinou que nem sempre quem parte volta. Mas e nós, que estamos supostamente em tempos de paz, por que continuamos nos afastando? Talvez porque o medo e a incerteza nunca saiam realmente de moda. Talvez porque aprender a confiar sempre foi mais difícil do que aprender a desconfiar.

Mas, no final das contas, a pergunta segue a mesma, seja nos tempos das cartas a Milena, de guerra e até os tempos dos áudios de WhatsApp: será que essa distância tem mesmo que ser tão grande?

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