O Imperador Heliogábalo, que governou o Império Romano entre 218 e 222 d.C., é uma figura histórica que desafiou normas sociais e culturais.
Quem foi Heliogábalo?
Heliogábalo, também conhecido como Marco Aurélio Antonino, nasceu em 203 d.C., em Emesa, na atual Síria.
Ascendeu ao trono romano aos 14 anos, com o apoio de sua avó, que manipulou o senado romano para consolidar sua posição como imperador da dinastia severa, e mesmo que seu reinado tenha sido curto, ficou conhecido por seu comportamento excêntrico, práticas religiosas incomuns e por sua expressão de gênero, que desafiava os padrões da época.
Fontes históricas, como as de Herodiano e Dion Cássio, relatam que Heliogábalo frequentemente se apresentava em trajes femininos e preferia ser chamado por títulos femininos.
Rejeição de normas
Além de se casar cinco vezes, realizava cerimônias religiosas vestido como uma sacerdotisa e buscava romper com a imagem tradicional de masculinidade associada ao imperador romano.
Ele também é descrito como tendo demonstrado um desejo de modificação corporal para refletir sua identidade de gênero. De acordo com relatos, chegou a oferecer grandes somas de dinheiro a médicos para realizar uma cirurgia de transição, algo que destaca sua tentativa de alinhar corpo e identidade em uma época em que essas práticas eram impensáveis.
É claro que seu comportamento foi muito criticado pelos romanos, especialmente pela elite senatorial e o problema não era apenas suas roupas, sua rejeição às normas de gênero e suas inovações religiosas, como a introdução do culto ao deus Sol Invicto, foram vistas como afrontas à tradição e à ordem social.
Mas infelizmente grande parte do que sabemos sobre Heliogábalo vem de relatos escritos após sua morte, que muitas vezes foram influenciados por preconceitos e tentativas de desmoralizá-lo. Sua imagem era tratada como “depravado” e pode ser entendida como uma construção política para justificar sua deposição, que é iniciado por sua avó Júlia Mesa.
Apenas sua mãe o apoiava, toda sua família aparentemente estava planejando um golpe militar e aos 18 anos, Antonino foi esfaqueado até a morte por seus próprios guardas.
Ele e sua mãe tiveram um trágico fim, e suas cabeças foram cortadas, seus corpos despidos e arrastados por toda a cidade. Sua mãe foi deixada de lado assim que morreu, e o cadáver de Antonino foi atirado no rio.
Na era contemporânea, Heliogábalo é frequentemente citado em debates sobre gênero como uma figura que desafiou binarismos em uma sociedade rigidamente patriarcal. Embora o termo “transgênero” seja moderno, sua vida pode ser vista como uma expressão precoce dessas experiências.
Inclusive, ele inspirou obras artísticas e literárias, como “Heliogábalo ou o Anarquista Coroado”, de Antonin Artaud, que reinterpretou sua vida sob um viés filosófico e surrealista.