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O dia em que o Vaticano julgou um cadáver

O dia em que o Vaticano julgou um cadáver

Imagine entrar numa igreja e ver um papa morto, vestido com trajes sagrados, sentado em um trono para ser julgado por crimes que supostamente cometeu meses depois de ter morrido. Pois é, isso realmente aconteceu.

A Igreja em guerra com ela mesma

No final do século IX, a Igreja Católica estava mergulhada em uma crise política brutal. Os papas eram frequentemente escolhidos por interesses de reis, famílias nobres e facções rivais em Roma.

Um dos personagens centrais desse caos foi o Papa Formoso, que assumiu o trono papal em 891. Formoso era um diplomata experiente, mas sua eleição foi controversa, cercada de disputas.

Ele morreu em 896. E aí, você pensa: fim da história. Mas não.

Quem foi o Papa Estêvão VI?

Após a morte de Formoso, outro papa assumiu, mas não ficou muito tempo. Foi até que, em 896, Estêvão VI chega ao trono. Estêvão era inimigo político de Formoso e estava sedento por vingança.

Mas como se vinga de alguém que já morreu? Simples (na lógica da época): você exuma o cadáver e o coloca em julgamento.

O julgamento do cadáver

O Concílio Cadavérico aconteceu em janeiro de 897, na Basílica de São João de Latrão, em Roma. O corpo de Formoso, já em estado de decomposição, foi retirado da tumba, vestido com paramentos papais e colocado em um trono.

Um diácono foi designado para falar por ele e responder às acusações em nome do cadáver.

As acusações incluíam:

  • Ter assumido o papado ilegalmente
  • Ter cometido perjúrio
  • Ter conspirado contra antigos papas

O resultado já estava decidido: Formoso foi considerado culpado, e como punição, o cadáver de Formoso foi despojado das vestes papais, os dedos da mão direita (usados para abençoar) foram cortados e o corpo foi jogado no rio Tibre.

A cena escandalizou até mesmo os padrões da época. Muitos fiéis e religiosos viram aquilo como blasfêmia absoluta.

Poucos meses depois, o papa Estêvão VI foi preso e assassinado na prisão. O novo papa, João IX, anulou o julgamento, ordenou que os restos mortais de Formoso fossem recuperados e enterrados com dignidade.

O Concílio Cadavérico foi oficialmente condenado e apagado dos registros, mas a história sobreviveu até hoje.

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