Opinião

Medieval Experience Halloween 2025: nem tão medieval assim

Medieval Experience Halloween 2025: nem tão medieval assim

Fui ao Medieval Experience Halloween, realizado no Modelódromo do Ibirapuera nos dias 15 e 16 de novembro de 2025, e saí com uma impressão curiosa: o evento é divertido, acessível e cheio de boas intenções… mas ainda está longe de fazer jus ao nome “medieval”.

E digo isso com carinho, porque o potencial é enorme.

Entrada caótica, mas facilitada

Cheguei no período da tarde e, logo na entrada, havia uma placa instruindo os visitantes a escanear um QR Code para conseguir acesso. Só que, na prática, o QR Code estava desativado e nem existia um site sequer. Ninguém conferia nada, bastava entrar.

Foi prático, claro. Mas também reforçou a sensação de um evento mal comunicado, como se uma parte tivesse sido planejada e a outra simplesmente abandonada ao improviso.

Bon Jovi na Idade Média?

No momento em que atravessei o portão, o evento estava tocando Bon Jovi e não pude evitar a pergunta interna:

“Ok, é uma banda veterana, mas desde quando ‘It’s My Life’ é renascentista?”

Depois percebi que estavam intercalando músicas modernas com temas medievais, provavelmente para evitar monotonia no público.

Entendo a intenção, mas essa mistura reforçou uma certa identidade confusa: afinal, o evento queria ser histórico, pop ou os dois?

Como o tema era Halloween e muitas pessoas foram fantasiadas, talvez músicas com essa temática combinassem mais, mesmo sendo ‘atual’, como Thriller do Michael Jackson.

Nada contra mesclar linguagens, a cultura medieval contemporânea vive muito desse híbrido.

Porém, se a proposta é “Lendas do Passado”, talvez fosse hora de apostar mais decisivamente no clima medieval, que tem repertório amplo: bardcore, música folclórica europeia, instrumentos como alaúde, flauta de osso, nyckelharpa, gaitas e mesmo cantos sacros da Alta Idade Média.

Gastronomia multicultural

A praça de alimentação era um dos espaços mais movimentados, com barracas de comida de vários países, como colombiana e afegã (onde o foco eram os doces árabes). As opções eram saborosas, mas faltou coerência com o tema.

Se havia intenção de trazer algo da culinária árabe medieval, vale lembrar que a expansão islâmica entre os séculos VII e XIII transformou o Mediterrâneo e a Península Ibérica, e muitos ingredientes típicos da época, como mel, tâmaras, pistaches, água de rosas, cordeiro e especiarias como açafrão e cúrcuma, poderiam compor menus muito mais conectados à história.

E, claro, eu estava esperando encontrar pelo menos uma barraca de “comida persa” ou alguma referência a antigas denominações medievais como Império Sassânida, Califado Abássida, Andaluzia ou algo que remetesse a pratos tradicionais daquele período.

A gastronomia medieval é riquíssima: pães, queijos curados, hidromel, ensopados de carne, sopas de leguminosas, peixes defumados, tortas… mas quase nada disso estava lá.

A sensação foi de um festival multicultural, e não medieval. E claro, vale lembrar também que a Idade Média não é só Europa.

Jogos, esgrima e RPG: finalmente, o clima certo

Na área dos jogos antigos, arqueirismo e demonstrações de esgrima histórica, o evento brilhou.
Essas atividades combinavam perfeitamente com o tema, até porque práticas como o tiro com arco, as lutas com espadas e os jogos táticos eram parte importante da vida medieval europeia.

A Idade Média, período que vai aproximadamente dos séculos V ao XV, foi marcada por cavaleiros, guildas, feiras, corporações de ofício, justas e tradições guerreiras.

Ver essas práticas renascendo em pleno Ibirapuera foi uma das partes mais imersivas da experiência.

Mas… as lojinhas quebravam o encanto

Grande parte das lojas vendia produtos nerd contemporâneos, como Pokémon e Harry Potter.
É compreensível: público nerd movimenta dinheiro, e esses eventos precisam vender.

Mas para quem busca um clima medieval, ver chaveiros de Pikachu ao lado de poções artesanais é um choque estético.

As lojinhas que mais combinaram com o tema eram justamente as de:

  • poções artesanais
  • espadas (réplicas ou decorativas)
  • roupas temáticas
  • acessórios e decoração inspirados em estilos medievais
  • docinhos de Halloween

Essas sim criavam atmosfera, despertavam imaginação e faziam sentido dentro da proposta original.

O veredito

No conjunto, o Medieval Experience Halloween funciona bem como um mini festival cultural, com atrações variadas, clima familiar e proposta inclusiva.

A entrada gratuita mediante doação é um ponto positivo, e os horários amplos (11h às 21h) permitem aproveitar o dia todo.

Mas, como um evento de temática medieval… ainda falta consistência.

A Era Medieval é rica, fascinante e cheia de possibilidades, da arquitetura gótica às rotas comerciais, das músicas sacras às festas camponesas, dos banquetes às lendas arturianas.

Ela merece ser explorada com mais profundidade.

Minha opinião final

O problema não é misturar cultura pop com medieval, isso pode ser feito, e muitos eventos mundo afora fazem com sucesso.

O problema é quando essa mistura ocorre sem equilíbrio, deixando o tema principal enfraquecido.

O Medieval Experience tem tudo para ser um grande evento histórico e cultural em São Paulo, mas precisa alinhar melhor sua identidade.

Ainda assim, valeu a visita e torço para que a edição de 2026 abrace a Idade Média com mais coragem e menos hesitação.

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