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Cinema: de entretenimento barato à crise

Cinema: de entretenimento barato à crise

A história do cinema é também a história de como as pessoas escolhem se divertir. Hollywood, como conhecemos hoje, não nasceu apenas do talento de seus diretores ou do glamour das estrelas.

Como Hollywood surgiu?

Ela surgiu porque o cinema era simplesmente acessível. No início do século XX, assistir a um filme custava alguns centavos.

Famílias inteiras enchiam as salas semanalmente. O cinema era democrático, popular e barato, e foi exatamente isso que permitiu que a indústria se tornasse o gigante que conhecemos.

Nas décadas de 1910 a 1950, as pessoas iam ao cinema como quem vai a uma praça: era parte da rotina.

Durante a Grande Depressão, quando os Estados Unidos viviam uma das piores crises econômicas de sua história, o cinema continuou lotado porque era uma das únicas formas de entretenimento que ainda cabiam no bolso da população do país.

Hollywood cresceu porque havia público e porque era barato ir ao cinema. A magia das telas cresceu sobre bases muito mais simples e acessíveis do que imaginamos hoje.

Pipoca e cinema

É impossível falar de cinema sem falar de pipoca, e o curioso é que essa combinação não nasceu dentro das salas.

A pipoca era consumida há muito tempo nas Américas, mas ganhou força no cinema quando vendedores ambulantes começaram a aproveitar o fluxo gigantesco de pessoas entrando e saindo das sessões de cinemas nos Estados Unidos.

Quando os donos das salas perceberam o potencial de lucro, passaram a vender ali mesmo: era barato, rápido e atraía o público pelo cheiro. A pipoca ajudou o cinema a sobreviver à Depressão e acabou se tornando parte da experiência.

A manteiga veio logo depois, com máquinas mais modernas nos anos 1930. Hoje, a vendinha de pipoca é um símbolo cultural tão forte quanto o próprio cinema.

Mudança no comportamento do público do cinema

A primeira grande mudança veio nos anos 1980 com o VHS. De repente, era possível assistir a filmes em casa, algo revolucionário.

Depois veio o DVD, o Blu-ray e, finalmente, o streaming. Cada uma dessas tecnologias tirou um pedaço do público dos cinemas.

Mas foi o streaming que virou a chave de forma definitiva. Serviços como Netflix, Amazon Prime Video, Disney+ e tantos outros mudaram o modo como as pessoas consomem. Era mais barato, mais prático e completamente sob demanda.

Por que sair de casa, pegar trânsito, pagar estacionamento, ingresso e comida, se os filmes estavam ali, a poucos cliques?

A pandemia de 2020 acelerou esse processo de forma irreversível. Milhões de pessoas simplesmente deixaram de frequentar cinemas e muitas nunca voltaram.

Ingressos ficaram caros e as salas ficaram vazias

Para tentar compensar a queda no público, os cinemas passaram a cobrar mais caro pelos ingressos. O que antes era um lazer comum virou um mini-luxo.

Em muitos países, ir ao cinema custa quase o mesmo que um bom jantar. Isso criou um círculo vicioso: quanto mais caro o ingresso, menos pessoas vão; quanto menos pessoas vão, mais caro o ingresso fica.

E as salas, que antes exibiam inúmeros filmes por dia, agora reduzem sessões para economizar energia, funcionários e custos básicos.

Eu mesma já precisei esperar sair um título no streaming porque não havia horário para ver algum filme no cinema, mesmo morando em uma das cidades mais populosas do mundo.

Essa crise é real e visível. Cinemas estão fechando permanentemente, principalmente os independentes. Mesmo grandes redes enfrentam dificuldades.

A volta da pirataria

Com o aumento dos preços e o excesso de plataformas, a pirataria voltou a crescer depois de anos em queda.

Não se trata apenas de “não querer pagar”. Muitas famílias não conseguem pagar múltiplas assinaturas de streaming, que hoje somam valores muito altos ao final do mês.

Some isso ao valor do ingresso de cinema, especialmente para famílias com crianças, e a escolha se torna óbvia para muitas pessoas.

Pesquisas internacionais mostram que a pirataria voltou a subir a partir de 2020. Isso preocupa Hollywood, porque o mercado legal nunca esteve tão fragmentado.

O que o cinema perdeu no caminho?

As pessoas não iam para ver apenas o filme, iam para viver uma experiência social. Hollywood prosperou porque qualquer pessoa podia pagar um ingresso. Hoje, essa realidade parece distante.

A indústria tenta sobreviver apostando em experiências premium, como salas IMAX ou poltronas reclináveis. Isso cria um produto de alta qualidade, mas também mais caro, afastando ainda mais o público comum.

O cinema mantém sua magia, mas está cada vez mais inacessível.

O futuro da sala de cinema

O futuro ainda está sendo escrito, mas já existe um caminho provável:

  • menos sessões por dia,
  • foco em grandes lançamentos,
  • experiências mais imersivas,
  • convivência com o streaming como principal meio de consumo.

O cinema pode não acabar, mas dificilmente voltará a ser o que já foi. Se quiser sobreviver como espaço físico, precisará recuperar algo essencial: acessibilidade.

A história de Hollywood prova que o cinema sempre foi forte quando era para todos.

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