A imagem da maternidade ao longo da história sempre refletiu as estruturas sociais, políticas e religiosas de seu tempo. Na Idade Média, ser mãe ia muito além do instinto ou do vínculo familiar: era, em muitos casos, uma missão de Estado.
Em um período marcado por guerras, alianças dinásticas e a centralidade da religião, algumas mulheres se destacaram não apenas por dar à luz herdeiros, mas por moldar o destino de reinos inteiros com sua visão, coragem e inteligência.
Além disso, vale ressaltar que naquela época a mulher não tinha muitos direitos como cidadãs, e por isso muitas vezes a melhor forma de dar a volta por cima era ficar por trás de seus maridos e filhos sem que ninguém percebesse que quem realmente estava comandando o reino eram elas. Um jogo perigoso.
Já em outras culturas, mesmo onde a mulher poderia ser rainha por direito e mérito próprio, sempre foi complicado assegurar um futuro de sucesso para seus filhos, como é o caso da própria Cleópatra VII do Egito.
Leonor de Aquitânia (1122–1204)
Leonor de Aquitânia foi uma das mulheres mais poderosas e influentes da Europa medieval. Herdou o vasto Ducado da Aquitânia e se casou com dois dos maiores monarcas de sua época: Luís VII da França e, posteriormente, Henrique II da Inglaterra.
Como mãe, Leonor teve dez filhos — entre eles, dois reis da Inglaterra: Ricardo Coração de Leão e João Sem Terra.
Sua influência não se limitou à maternidade biológica. Leonor foi educadora, conselheira e estrategista política. Durante o reinado de Ricardo, chegou a atuar como regente, mantendo o trono em equilíbrio enquanto ele estava nas Cruzadas.
Sua capacidade de articular alianças, gerir conflitos e educar filhos destinados ao poder mostra como a maternidade, para ela, foi um papel de liderança. Leonor moldou o imaginário da “rainha mãe” — uma mulher que não apenas gerava reis, mas os formava.
Catarina de Médici (1519–1589)
Embora seu auge tenha ocorrido no final da Idade Média e início da modernidade, Catarina de Médici personifica o drama da maternidade política.
Nascida em Florença, ela se tornou rainha da França ao se casar com Henrique II, mas com a morte do marido, governou nos bastidores como rainha-mãe de três reis franceses: Francisco II, Carlos IX e Henrique III, ficando muitos anos no poder juntamente com sua família, algo pouco visto até então.
Catarina é uma figura controversa. Acusada de manipulação e de ter ordenado o Massacre da Noite de São Bartolomeu, mas também é vista por muitos historiadores como uma mãe desesperada para manter seus filhos vivos e seus tronos seguros em uma França dilacerada pelas guerras religiosas entre católicos e protestantes.
Sua maternidade foi marcada por negociações incessantes, casamentos diplomáticos e, acima de tudo, uma tentativa constante de equilibrar poder, fé e família. Catarina representa o dilema da mulher em cargos de poder: até que ponto proteger os filhos justifica alianças ou ações brutais?
Branca de Castela (1188–1252)
Filha de Leonor da Inglaterra e neta de Leonor de Aquitânia, Branca de Castela foi rainha consorte da França e mãe de Luís IX, mais tarde canonizado como São Luís.
Viúva cedo, Branca governou como regente enquanto seu filho era menor de idade e novamente durante as cruzadas de Luís.
Conhecida por sua firmeza, fé e habilidade política, Branca foi mais que uma tutora: foi uma formadora de caráter. Ela supervisionou pessoalmente a educação de Luís, incutindo nele valores cristãos e senso de justiça que mais tarde o transformariam em símbolo do rei cristão ideal.
Branca representa o ideal medieval da “mãe santa” e, ao mesmo tempo, a realidade prática da mulher que governa, que lidera tropas e que negocia com o Papa.
Teodora (c. 500–548)
Antes de se tornar imperatriz do Império Bizantino, Teodora foi atriz e cortesã, profissão marginalizada no contexto do Império Romano do Oriente.
Ao se casar com Justiniano I, ascendeu a um dos cargos mais altos de sua época e foi co-governante em tudo, tendo papel decisivo nas reformas sociais e religiosas.
Teodora teve pelo menos uma filha (cujo destino histórico é pouco documentado), mas sua maternidade foi simbólica: ela lutou pela proteção de mulheres marginalizadas, pelo direito das mulheres não serem forçadas à prostituição, e por leis que beneficiavam mães solteiras e crianças órfãs.