O sistema penitenciário e do crime organizado brasileiro é palco de histórias que revelam muito sobre violência, desigualdade e política.
Entre essas histórias, o Massacre do Carandiru, a formação do PCC em São Paulo e do Comando Vermelho no Rio de Janeiro são marcos que explicam como o crime organizado se estruturou no país e continua influenciando a sociedade hoje.
O massacre do Carandiru: o ponto de virada
Em 2 de outubro de 1992, o Presídio do Carandiru, em São Paulo, se tornou símbolo da violência do sistema prisional.
Com capacidade para 2.000 detentos, abrigava mais de 8.000 pessoas, em condições precárias, superlotação e insalubridade.
O conflito começou com uma briga entre detentos, mas a intervenção da tropa de choque da Polícia Militar resultou na morte de 111 presos, muitos deles sem envolvimento na confusão. O massacre evidenciou falhas graves de segurança, gestão prisional e respeito aos direitos humanos.
Governos de São Paulo e contexto político em 1992
Na época, o estado de São Paulo era governado por Luiz Antônio Fleury Filho, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), entre 1991 e 1994.
Fleury Filho enfrentava críticas pela gestão da segurança pública e pelo aumento da violência nos presídios.
O episódio do Carandiru acabou sendo um divisor de águas na discussão sobre reformas penitenciárias e políticas de segurança no estado.
O nascimento do PCC: resposta ao sistema de São Paulo
Poucos meses após o massacre, em 1993, nasceu dentro dos presídios paulistas o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Formado por presos que buscavam proteção mútua, o grupo surgiu como uma resposta direta à violência policial, à superlotação e à ausência de direitos básicos.
Com o tempo, o PCC se transformou em uma das facções mais poderosas da América do Sul, se organizando com hierarquia, códigos internos e estratégias financeiras.
Suas operações se expandiram para o tráfico de drogas, assaltos a bancos e controle de territórios urbanos, criando uma rede de influência dentro e fora das prisões.
Governos de São Paulo e segurança pública
Desde a criação do PCC, os governos paulistas enfrentaram desafios para conter o crescimento da facção:
- 1991-1994: Luiz Antônio Fleury Filho (PSDB) – período do Massacre do Carandiru
- 1995-2001: Mário Covas (PSDB) – endurecimento da segurança e aumento de prisões
- 2001-2006: Geraldo Alckmin (PSDB) – implementação de políticas de inteligência e combate organizado
- 2007-2010: José Serra (PSDB)
- 2011-2018: Geraldo Alckmin (PSDB)
- 2019-2022: João Doria (PSDB)
- 2023-presente: Tarcísio de Freitas (Republicanos)
O surgimento do Comando Vermelho no Rio de Janeiro
Antes mesmo do PCC, o Comando Vermelho (CV) surgiu no fim da década de 1970, dentro da penitenciária de Ilha Grande, no Rio de Janeiro.
Presos comuns e políticos, confinados juntos durante o regime militar, criaram alianças para sobreviver à violência e à repressão.
O grupo nasceu como uma rede de solidariedade, mas logo passou a dominar o tráfico de drogas nas favelas cariocas, especialmente na Zona Norte e na Baixada Fluminense.
Com o tempo, o CV se tornou símbolo da criminalidade organizada, influenciando a dinâmica do poder nas comunidades e a política de segurança no estado.
Governo do Rio de Janeiro e contexto político
Desde a criação do CV, diversos governos estaduais lidaram com a violência urbana:
- 1979-1987: Chagas Freitas (MDB) e Leonel Brizola (PDT)
- 1987-1991: Moreira Franco (PMDB)
- 1991-1994: Leonel Brizola (PDT)
- 1995-1999: Marcello Alencar (PSDB)
- 1999-2002: Anthony Garotinho (PSB)
- 2003-2007: Rosinha Garotinho (PSB)
- 2007-2014: Sérgio Cabral (PMDB)
- 2015-2018: Luiz Fernando Pezão (PMDB)
Cada governo lidou de forma diferente com o fortalecimento do CV, variando entre políticas de repressão direta, acordos de “paz” temporária e tentativas de programas sociais nas favelas.
Crime organizado hoje
Mais de 30 anos após o Massacre do Carandiru e a criação das facções, o PCC e o Comando Vermelho continuam ativos, influenciando a vida urbana e a política de segurança no Brasil.
Enquanto o CV mantém forte presença no Rio, o PCC se expandiu nacionalmente, controlando territórios em estados como Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina.
A história dessas facções mostra como violência, desigualdade e políticas públicas ineficazes contribuem para a criação de poder paralelo dentro da sociedade.
